terça-feira, 8 de junho de 2010

Curiosidade sobre o sexo

Para complementar as informações da postagem anterior e aguçar um pouco mais a curiosidade do leitor acerca do tema, trago abaixo alguns exemplos interessantes que nos fazem ter a idéia de que pensar sobre qualquer tipo de comportamento relacional a determinada cultura é pensar sobre a estrutura dessa sociedade e não, evidentemente, questionar o quanto de “loucura” está inserido neste.

Os motivos para a existência de determinados comportamentos dentro de uma sociedade pode, aparentemente não ter racionalidade ou uma racionalidade sustentável, porém ao submergir no universo cultural desta, pode-se perceber o quanto de racional ou instintivo existe na edificação daquele comportamento.

Cali, na Colômbia: uma mulher só pode ter relações com seu marido, quando na primeira vez que isso ocorrer, sua mãe estiver no quarto para testemunhar o ato.

Lógica: o ritual da primeira relação entre marido e esposa, exige à função da mãe para testemunhar se de fato o casamento foi consumado, pode ser extremamente necessário para corroborar o casamento e até mesmo, para motivar em orgulho as partes envolvidas na situação.

Guam: alguns homens mantêm o emprego em tempo integral de viajar por todo território para deflorar virgens, que pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez.

Lógica: a razão primeira da promoção deste comportamento é que a legislação de Guam proíbe as mulheres de se casarem virgens, outras razões, como o papel pormenorizado das mulheres na sociedade e o papel/status relacionado aos homens também devem ser considerados.

Maryland: preservativos podem ser vendidos em máquinas, entretanto somente em lugares onde são vendidas bebidas alcoólicas para consumo no local.

Lógica: razão médica ou de controle populacional, tal qual a China, leis como estas circundam o comportamento sexual dos indivíduos.

Brasil: em função da própria geografia (extensão geográfica) e a fatores de cunho político e religioso, em diversas regiões do país as concepções e o comportamento sexual dos indivíduos são notadamente diferentes.

Em algumas cidades do Nordeste: a sexualidade, em especial feminina, é supervalorizada, e em paradoxo desvalorizada. Em função de fatores como pobreza, atrativo turístico e por conseqüência a grande movimentação de renda; quadrilhas se formam para a exploração sexual de mulheres, muitas delas ainda menores, são atraídas pela possibilidade real de trabalho e dinheiro.

Em contrapartida, ainda no Nordeste: em muitas cidades do interior, as mulheres são casadas virgens em casamentos arranjados por seus pais. Em cidades mais pobres também, a intervenção da igreja é ainda muito presente e os dogmas religiosos são seguidos a fio.

Em regiões mais desenvolvidas, como a Sudeste: o alcance da tecnologia e das redes digitais também se relaciona ao comportamento sexual. O acesso facilitado a conteúdos relacionados a sexo é realizado cada vez mais por indivíduos de menor idade e contribui em larga escala para a promoção do contato mais cedo destes indivíduos com o sexo; ao passo que, a falta de informação nesta mesma sociedade contribui para o aumento considerável dos índices de gravidez na adolescência e dos portadores de DST’s.

Sexualidade em foco: da parada gay ao dia nacional do sexo.


Aconteceu em São Paulo, neste último domingo, 06 de Junho, mais uma Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), popularmente conhecida como “Parada do Orgulho Gay“. A manifestação, já presente em diversos estado e cidades do Brasil, ocorreu pelo 14º ano e bateu mais uma vez recorde de público; estima-se que mais de 3 milhões de pessoas de todas as partes do país e também do restante do planeta participaram do evento.

A sexualidade e suas questões circundantes são seguramente os primeiros colocados no que se refere à repercussão e polêmica. Aparentemente, nenhuma cultura ou sociedade escapou das problemáticas oriundas do tema e até por isso, sancionaram ou vetaram comportamentos, assumindo o controle sobre a vida sexual dos indivíduos. O sexo sempre foi constituído de tabus e crenças, pelos quais algumas instituições como a Igreja e o Estado detinham o controle sobre o comportamento dos indivíduos, ampliando, inclusive, tal controle a outros comportamentos encadeados. Naturalmente, quando se adota juízos de valores e códigos de conduta que referendam e controlam o comportamento de seus participantes, os ditos “fora da norma” são SEMPRE prejudicados, excluídos, perseguidos ou mesmo exterminados.

Muitas sociedades ao redor do mundo condenam o homossexualismo, algumas de maneira declarada, outras nem tanto. Contudo, o que se perceber de maneira comum é a sobrevivência do preconceito, passado ideologicamente através das gerações que se seguem.

Na idade média, por exemplo, a Igreja dotada da noção do pecado, provocou a perseguição de muitos homossexuais através da inquisição, pois a homossexualidade era considerada um “desvio da fé” (Atualmente são as Igrejas pentecostais que realizam uma verdadeira cruzada “anti-homossexuais”). Já no séc. XX o homoerotismo deixa de ser considerado pecado e a homofobia alcança a ciência. Pesquisadores de diversas áreas, com destaque para a saúde, empenham-se em caracterizar a homossexualidade como doença. Nem mesmo o saber “psi” escapou de contribui negativamente para a perpetuação do preconceito. A Psiquiatria transformou a sexualidade em algo de ordem exclusivamente biológica (neurológica), assim os homossexuais eram considerados portadores de alguma disfunção, passível de ser resolvida a base de medicamentos. A Psicologia, até passado recente, tratava o homossexualismo também como patologia, entretanto algo relativo aos “desvios de conduta”, em função das relações entre gênero e sexualidade - estabelecidas arbitrariamente pela cultura e sociedade.

É bem verdade que muitas modificações sociais ocorreram, facilitando senão a quebra do preconceito, à maior aceitação do “diferente”. Ainda assim, apesar de todas as informações e avanços o fenômeno da “patologização” da homossexualidade ainda persiste, como por exemplo, na tão conhecida relação homossexualismo X fatores de risco (DSTs, violência, etc.). A Psicologia, em todos os seus vieses, conseguiu construir um conhecimento sobre a orientação sexual - com destaque para a Psicologia Social e suas contribuições sobre a sexualidade, gênero e identidade - que está distanciado dos preconceitos de outrora (Ainda assim, casos isolados como o da psicóloga e evangélica Rosângela Justino, que oferece “tratamento para curar gays”, possam ocorrer por motivos outros que não aqueles da Psicologia).

A Parada do Orgulho GLBT é, antes, um Movimento Social que aproxima e oferece conhecimento a sociedade brasileira sobre este grupo social. A sua repercussão, longevidade e a participação crescente do público de diversas orientações sexuais parecem indicar uma maior abertura da população brasileira para lidar com temas polêmicos, como a sexualidade. Digo, “parece” visto que, hoje, 8 de Junho, o Jornal Hoje (Rede Globo), informou que a Comissão de Educação e Cultura da Câmara, irá analisar o projeto do ex-deputado Edigar Mão Branca (PV-BA) que pretende criar o Dia Nacional do Sexo, nesta mesma data. Como de se esperar, o projeto não foi bem aceito e sofreu forte oposição e preconceito. É verdade que a aprovação do projeto não corresponde a uma prioridade a ser votada nos três poderes, contudo (e de acordo com o autor da proposta) é [mais uma tentativa] de derrubar o falso moralismo da sociedade brasileira em relação ao sexo e promover, ainda que por um único dia, o diálogo sobre a sexualidade e a própria educação sexual.

E você o que acha dessa proposta?